A constituição do gênero masculino e feminino no psiquismo | Sônia Maria Perozzo Noll

A constituição do gênero masculino e feminino no psiquismo

Sônia Maria Perozzo Noll

Introdução

Sexo – Conformação particular que distingue 0 macho da fêmea, nos animais e nos vegetais, atribuindo-lhes um papel determinado na geração e conferindo-lhes certas características distintivas.[1]

0 tema proposto objetiva essencialmente definir porque e como ocorre o desenvolvimento sexual nos seres humanos. Limitamos o tema dentro do parâmetro de quais os caminhos que pode tomar a sexualidade e porque ocorrem desvios.

A proposta busca subsídios nos conhecimentos de Freud que, sobre este tema, fala sobre a sexualidade, seu desenvolvimento e as conseqüências psíquicas da diferença anatômica dos sexos.

A fim de fundamentar com maior consistência o tema é relevante considerar as idéias e pensamentos de Melanie Klein sobre o mesmo assunto. Esta também fala sobre o desenvolvimento da sexualidade masculina e feminina. Suas idéias somadas às de Freud, permite um melhor entendimento sobre o assunto.

Sobre o tema e posicionamento destes dois autores, Marie Langer fez, em sua obra, uma revisão desta literatura psicanalítica, que foi bastante relevante para a realização deste trabalho.

0 interesse por este tema surgiu da necessidade de compreender ou analisar as variáveis que interferem na escolha da identidade sexual, isto é, o que faz um homem ou uma mulher se tornar masculino ou feminino.

O desenvolvimento sexual no menino e na menina para Freud

O texto sobre ‘Sexualidade Feminina[2], escrito por Freud é considerado um dos mais importantes sobre este assunto. Foi escrito em 1931, visto que Freud estudou primeiramente o desenvolvimento da sexualidade infantil do menino. Para ele, o sexo “standard” era o masculino, depois atribuiu à mulher o mesmo desenvolvimento até o momento, por volta dos três ou quatro anos de idade, em que a menina se dá conta da diferença anatômica dos sexos.

Utilizando-se da leitura de Freud, Marie Langer [3] diz que, no início da vida, tanto o rapaz como a menina dirigem seus impulsos libidinais para o mesmo objeto: a mãe, ou um substituto dela, a mulher que os cuida e atende. Para o menino, o sexo de seu primeiro objeto amoroso coincide com sua escolha definitiva, isto é, ama desde o primeiro momento a mulher, que para ele será mais tarde um objeto heterossexual. A menina terá que desligar-se de sua mãe para dirigir-se ao pai e criar assim um modelo infantil para sua eleição heterossexual posterior. Assim, ela deve superar três mudanças importantes em sua estrutura libidinosa para cumprir um desenvolvimento normal. Deve abandonar sua mãe pelo seu pai, deslocar a maior parte da excitabilidade do clitóris para a vagina e transformar seus fins sexuais ativos em passivos. Essas trocas se realizam em parte na fase fálica e em parte só na puberdade. A primeira relação amorosa com a mãe é muito importante para uma identificação posterior. Se a relação com a mãe foi conflituada, existe o perigo de se repetir esse comportamento com o marido, substituto inconsciente da imagem materna. Também existe, durante o início do desenvolvimento um desejo de fecundar a mãe e ser fecundada por ela, de dar-lhe um filho ou de recebê-lo.

Para Freud, em Marie Langer, o que leva a menina a afastar-se de seu primeiro objeto de amor, a mãe é que a menina interpreta os cuidados físicos que a mãe lhe despertou e que lhe produziram sensações eróticas prazeirosas como tentativas de sedução e lhe recrimina tê-la despertado sexualmente para depreciá-la depois por sua masturbação. Recrimina-a por havê-la amamentado pouco ou ter-lhe retirado o seio muito cedo. Sentiu-se rejeitada pela mãe por causa do nascimento de novos irmãos. É certo que a menina culpa a mãe de tudo isso, mas o motivo principal e que difere do menino, já que ele sofre as mesmas desilusões, é que recrimina a sua mãe pela falta de um pênis. A princípio acredita que somente a ela falta o pênis e que sua mãe tem um falo. Somente aos poucos a menina comprova que também à sua mãe falta o órgão tão apreciado e com isso percebe que não existe a possibilidade de uma satisfação física entre ela e a mãe. Então começa a desprezá-la e a inclinar-se para o pai, no início com a esperança que ele lhe dará um pênis e depois que ele lhe dará um filho.

Em ambos os sexos as crianças são passivas frente a sua mãe e lutam para conseguir certa atividade e impor a ela o papel passivo. Para o bom desenvolvimento é importante conseguir uma identificação feliz com a mãe ativa. Mais tarde a situação de meninos e meninas se diferencia. A menina, ao dirigir-se ao pai, identifica-se com sua mãe passiva castrada e sublima suas tendências ativas e mais tarde, ao tornar-se mãe é que revive sua atividade.

Para Freud, a reação a descoberta da diferença dos sexos, a menina reage com sentimento de inveja, desejando ela mesma possuir um pênis, sentindo-se inferior e rejeitando seu próprio sexo. A menina justifica sua falta de pênis, como tendo sofrido uma mutilação genital. Esse processo psicológico seria independente do ambiente social da menina. Passada a primeira desilusão e depois de muitos conflitos, a menina chega a reconciliar-se com seu próprio sexo, mas geralmente subsiste durante sua vida certo ressentimento por sua feminilidade. Sua falta de pênis, que considera quase uma inferioridade orgânica, gera também uma inferioridade no plano psicológico, cultural e moral.

Até a fase fálica, não existe diferença alguma na evolução psicossexual das crianças. Para o menino também, o temor à castração se vê reforçado por sua observação dos genitais femininos, que nesta fase, se dá conta realmente da diferença de sexos, percebe que a mulher não tem pênis e imagina que tenha sido mutilada como castigo por uma atividade genital proibida. Nesse momento, o menino começa a temer por seu próprio órgão e a desprezar e evitar a mulher como ser castrado e inferior.

Para Marie Langer, revisando Freud, a menina, passa por uma fase oral e anal para entrar na fase fálica e, a princípio, goza por meio da estimulação do clitóris, tem como centro nesta zona, todo seu narcisismo e sua excitação sexual, e acompanha suas atividades masturbatórias com fantasias dirigidas ao pai e, entra assim em conflito com sua mãe. Quando tem, nessa época ocasião de observar o órgão sexual tão diferente de outra pessoa, sua primeira reação é uma inveja violenta, se sente inferiorizada pela forma rudimentar de seu clitóris. Espera que com o tempo crescerá, transformando-se em um pênis, e inicia desta forma seu “complexo de masculinidade”. Também imagina ter tido um pênis antes e tê-lo perdido como castigo por suas brincadeiras sexuais. Pensa que outras mulheres, especialmente sua mãe, possui um pênis. Com o menino, pelo temor da castração, ele renuncia a sua mãe e à masturbação para não perder esse órgão tão apreciado. A menina acredita já tê-lo perdido e assim, falta-lhe um motivo importante para renunciar ao seu vínculo incestuoso com o pai e formar sua consciência moral, seu superego. Por culpar a mãe de sua inferioridade genital, a menina se afasta dela e fica ligada a seu pai, esperando receber dele o pênis almejado. Aos poucos transforma esse desejo em outro, que é receber como presente do pai um bebê, mas com o tempo se dá conta que o pai não pode satisfazer seus desejos, desilude-se com ele e se afasta pouco a pouco, ficando o caminho livre para escolher outro objeto.

A mulher admite muito menos a masturbação do que o homem e muitas dizem não se lembrar de se terem masturbado quando meninas e Freud explica esta repulsa e esta repressão da masturbação como posteriores ao descobrimento da diferença sexual e sua conseqüência, porque esta atividade, antes tão prazeirosa para a menina, torna-se penosa e angustiante, fazendo-a recordar sua inferioridade frente ao menino. Freud sustentou que a menina abandona desgostosa a masturbação quando se dá conta da diferença e de sua falta de pênis, porque prefere não tocar mais nos genitais e esquecer desta forma sua suposta mutilação. Para Marie Langer outra causa do abandono da masturbação feminina é que a masturbação clitoridiana das primeiras fases está intimamente ligada às fantasias dirigidas à mãe e quando a menina, desiludida abandona-a como objeto amado, renuncia também ao prazer clitoridiano, por ser o órgão executivo de seus desejos e considera como inúteis tanto o genital materno como seu próprio.

Em 1925 Freud escreve sobre “Algumas conseqüências psíquicas da distinção anatômica dos sexos” [4] e fala como a atitude edipiana dos meninos pertence à fase fálica e sua destruição é ocasionada pelo temor da castração, isto é, pelo interesse narcísico nos órgãos genitais, mas mesmo nos meninos, o complexo de édipo possui uma orientação dupla, ativa e passiva, de acordo com sua constituição bissexual. O menino também deseja tomar o lugar de sua mãe como objeto de amor de seu pai, sendo assim uma atitude feminina.

Para Freud também existe a pré-história do complexo de édipo, que inclui uma identificação afetuosa com o pai, livre de qualquer sentimento de rivalidade com relação à sua mãe e outra característica da pré-história edipiana é uma atividade masturbatória vinculada aos órgãos genitais, a masturbação da primeira infância, cuja supressão mais ou menos violenta daqueles que estão encarregados da criança põe em ação o complexo de castração. Deve-se presumir que essa masturbação está ligada ao complexo de édipo e sirva como descarga para a excitação sexual que lhe é própria. Outra maneira de justificar a masturbação da primeira infância é o fato de uma criança em idade muito precoce escutar os pais copularem, o que pode desencadear sua primeira excitação sexual e pode agir como ponto de partida para todo desenvolvimento sexual da criança.

Nas meninas, as conseqüências psíquicas da inveja do pênis, desenvolve como cicatriz um sentimento de inferioridade, mesmo após a inveja do pênis ter abandonado seu verdadeiro objeto, ela continua existindo, através de um fácil deslocamento persiste no traço característico do ciúme. Outra conseqüência da inveja do pênis parece ser um afrouxamento da relação afetuosa da menina com seu objeto materno.

Para Freud, a masturbação infantil na menina parece ser menor que nos meninos e pode ser justificada pela reflexão de que a masturbação, pelo menos do clitóris, é uma atividade masculina, e que a eliminação da sexualidade clitoridiana constitui precondição necessária para o desenvolvimento da feminilidade. Seu reconhecimento da distinção anatômica entre os sexos força-a a afastar-se da masculinidade e da masturbação masculina, para novas linhas que conduzem ao desenvolvimento da feminilidade.

A partir do complexo de édipo, a libido da menina vai para uma nova posição, ela abandona o desejo de um pênis e coloca em seu lugar o desejo de um filho e com este fim em vista, toma o pai como objeto de amor e a mãe se torna o objeto de seu ciúme e a menina transforma-se em uma pequena mulher. Nas meninas, o complexo de édipo é uma formação secundária. As operações do complexo de castração o precedem e preparam.

Enquanto nos meninos o complexo de édipo é destruído pelo complexo de castração, nas meninas ele se faz possível e é introduzido através do complexo de castração. Na menina é uma castração que foi executada e no menino foi simplesmente ameaçada.

A castração inibe e limita a masculinidade na menina e incentiva a feminilidade.

No texto sobre feminilidade [5] Freud considera como indicações da bissexualidade que partes do aparelho sexual masculino também aparecem no corpo da mulher, ainda que em estado atrofiado, e vice-versa, como se um indivíduo não fosse homem ou mulher, mas sempre fosse ambos, simplesmente um pouco mais de um do que de outro e a proporção em que masculino e feminino se misturam num indivíduo, está sujeito a flutuações muito amplas.

Ambos os sexos parecem atravessar da mesma maneira as fases iniciais do desenvolvimento libidinal. Com seu ingresso na fase fálica, as diferenças entre os sexos são completamente eclipsadas pelas suas semelhanças. Nos meninos essa fase é marcada pelo fato de que aprenderam a obter sensações prazeirosas de seu pequeno pênis, e relacionam seu estado de excitação às suas idéias de relação sexual. As menininhas fazem o mesmo com seu diminuto clitóris. Parece que em todas elas a atividade masturbatória é executada nesse equivalente do pênis e que a vagina verdadeiramente feminina, a essa época, ainda não foi descoberta por ambos os sexos.

Para um menino, sua mãe é o primeiro objeto de seu amor, e ela assim permanece durante a formação do complexo de édipo e por toda a vida. Para a menina, também seu primeiro objeto de amor é a mãe, mas na situação edipiana a menina tem seu pai como objeto amoroso e espera-se que no curso normal do desenvolvimento ela passe desse objeto paterno para sua escolha objetal definitiva. Com o passar do tempo, portanto a menina tem de mudar de zona erógena e de objeto, do clitóris para a vagina e da mãe para o pai e um menino mantém ambos.

Na menina, o estádio preliminar de vinculação com a mãe é tão rico e duradouro que pode deixar atrás de si tantas oportunidades para fixações e disposições. O que mais claramente se expressa é um desejo da menina de ter da mãe um filho. Também encontramos a fantasia de sedução na pré-história pré-edipiana das meninas e o sedutor é geralmente a mãe, relacionadas as atividades ligadas à higiene corporal da criança.

A descoberta de que é castrada representa um marco decisivo no crescimento da menina. Daí partem três linhas de desenvolvimento possível: uma conduz à inibição sexual ou a neurose, outra, à modificação do caráter no sentido de um complexo de masculinidade, e terceira, finalmente à feminilidade normal.

A inibição sexual se dá da seguinte forma, a menininha viveu até então de modo masculino, conseguiu obter prazer da excitação de seu clitóris e manteve essa atividade em relação a seus desejos sexuais dirigidos à mãe, os quais, muitas vezes são ativos: ora, devido à influência de sua inveja do pênis, ela perde o prazer que obtinha da sua sexualidade fálica. Seu amor próprio é modificado pela comparação com o pênis do menino e em conseqüência renuncia à satisfação masturbatória derivada do clitóris, repudia seu amor pela mãe e, ao mesmo tempo, não raro reprime uma boa parte de suas inclinações sexuais em geral.( Freud, p. 126)

Paralelamente ao abandono da masturbação clitoridiana, renuncia-se a uma determinada soma de atividade. Predomina, agora, a passividade, e o voltar-se da menina para seu pai realiza-se com o auxílio de impulsos instintuais passivos, que prepara o caminho para a feminilidade (p.127).

A situação feminina só se estabelece se o desejo do pênis for substituído pelo desejo de um bebê. Com a transferência para o pai, do desejo de um pênis-bebê, a menina inicia a situação do complexo de édipo. A hostilidade contra a sua mãe se intensifica uma vez que esta se torna rival da menina. Para as meninas, a situação edipiana é o resultado de uma evolução longa e difícil, permanecem nessa situação por um tempo indeterminado, destroem-no tardiamente e ainda assim, de modo incompleto.

Outra reação possível face à descoberta da castração feminina é o desenvolvimento de um intenso complexo de masculinidade. A menina se recusa a reconhecer o fato indesejado e, desafiantemente rebelde, até exagera sua masculinidade prévia, apega-se a sua atividade clitoridiana e refugia-se numa identificação com sua mãe fálica ou com seu pai. Freud supõe que o que decide em favor de tal desfecho é um fator constitucional, uma quantidade maior de atividade, tal como geralmente é característico do homem. A essência desse processo é que nesse ponto do desenvolvimento, evita-se a afluência da passividade que abre caminho à mudança rumo à feminilidade. O máximo de realização de semelhante complexo de masculinidade pareceria ser a influência sobre a escolha de um objeto no sentido do homossexualismo manifesto.

O desenvolvimento da feminilidade, tomando a pré história infantil como ponto de partida, perturbações motivadas pelo período masculino inicial. Muito freqüentemente ocorrem regressões às fixações das fases pré-edipianas, numa repetida alternância entre períodos em que ora a masculinidade ora a feminilidade predominam. O “enigma da mulher” pode talvez derivar-se da expressão da bissexualidade na vida da mulher.

No texto sobre Sexualidade Feminina, de 1931, Freud fala que o desenvolvimento infantil, durante a fase do conflito edipiano, a criança se liga de uma forma muito afetiva ao genitor do sexo oposto e, o seu relacionamento com o genitor de seu próprio sexo é predominantemente hostil, porém isso ocorre de forma diferente no menino e na menina. Com o menino, como seu primeiro objeto amoroso foi a mãe e com a intensificação de seus desejos eróticos e sua compreensão interna mais profunda das relações entre o pai e a mãe, o pai passa a ser seu rival.

Com a menina, também seu primeiro objeto de amor foi a mãe. A ligação inicial com a mãe, de forma muito intensa e apaixonada, remetia a uma ligação igualmente intensa com o pai, onde o que mudava era apenas o objeto amoroso. Também a duração dessa ligação inicial tem grande importância no desenvolvimento da menina, que em diversos casos dura até os quatro, cinco anos de idade e essa fase comporta todas as fixações e repressões. Nesse sentido, a fase pré-edipiana tem uma importância bastante significativa no desenvolvimento feminino.

As condições primárias para a escolha de objeto são as mesmas para todas as crianças, pelo fato da mãe alimentá-la, tomar conta dela, etc. Para a menina, ao final do seu desenvolvimento, seu pai, um homem, deveria ter-se tornado seu novo objeto amoroso, isto é, a mudança em seu próprio sexo deve corresponder a uma mudança no sexo de seu objeto.

No início do desenvolvimento, o pai de uma menina não é para ela mais que um rival causador de problemas, embora em menor intensidade do que os meninos o sentem.

Para Freud, também ocorre a mudança de sua principal zona genital – o clitóris, em favor de outra – a vagina.

Não há dúvidas para Freud que a bissexualidade está presente na disposição inata dos seres humanos e é mais a

centuada nas mulheres do que nos homens. Este tem apenas uma zona sexual principal, enquanto a mulher tem duas: a vagina e o clitóris, análogo ao órgão masculino.

Para Freud, diferente de Melanie, na menina, por muitos anos, a vagina é “virtualmente inexistente e, possivelmente não possui sensações até a puberdade” (Freud, 1931, p. 262).

Nas mulheres, as principais ocorrências genitais da infância ocorrem em relação ao clitóris. Nesse sentido sua vida sexual é dividida em duas fases, sendo que a primeira possui um caráter masculino e a segunda é especificamente feminina.

Um aspecto importante que ocorre com a mulher é o fato do clitóris, com seu caráter viril, continuar a funcionar na vida sexual feminina posterior, de maneira muito variável e que certamente ainda não é satisfatoriamente entendida.

Outra diferença, para Freud, que ocorre entre os sexos, se relaciona com o ‘complexo de édipo’.

Para o menino,”a descoberta da possibilidade de castração, tal como provada pela visão dos órgãos genitais femininos, que impõe ao menino a transformação de seu complexo de édipo e conduz a criação de seu superego, iniciando assim todos os processos que se destinam a fazer o indivíduo encontrar lugar na comunidade cultural”.(Freud, p. 263)

O interesse narcísico do menino por seus órgãos genitais, seu interesse em preservar o pênis que é transformado numa restrição de sua sexualidade infantil, é considerado como formador do superego pela internalização paterna.

Para Freud, a menina,

reconhece o fato de sua castração,e, com ele, também a superioridade do homem e sua própria inferioridade, mas se rebela contra esse estado de coisas indesejável. Dessa atitude dividida, abrem-se três linhas de desenvolvimento. A primeira leva a uma revulsão geral à sexualidade. A menina, assustada pela comparação com os meninos, cresce insatisfeita com seu clitóris, abandona sua atividade fálica e, com ela, sua sexualidade em geral, bem como boa parte de sua masculinidade em outros campos. A Segunda linha leva a se aferrar com desafiadora auto-afirmatividade à sua masculinidade ameaçada. Até uma idade inacreditavelmente tardia, aferra-se a esperança de conseguir um pênis em alguma ocasião. Essa esperança se torna o objetivo de sua vida e a fantasia de ser um homem… Só se seu desenvolvimento seguir o terceiro caminho, muito indireto, ela atingirá a atitude feminina normal final, em que toma o pai como objeto, encontrando assim o caminho para a forma feminina do complexo de édipo. Assim, nas mulheres, o complexo de édipo constitui o resultado final de um desenvolvimento bastante demorado. Ele não é destruído, mas criado pela influência da castração. (Freud, 1931, p. 264)

A atitude hostil para com a mãe, é vista por Freud não como conseqüência da rivalidade implícita no complexo de édipo mas tem origem na fase anterior, que corresponde a uma hostilidade que a criança sente, em relação à mãe, como conseqüência das múltiplas restrições impostas por esta no cuidado corporal e controle dos esfincteres, e o mecanismo de projeção é favorecido pela idade precoce da organização psíquica da criança. Depois essa atitude hostil com a mãe, é reforçada na situação edipiana. Como conseqüência, na maturidade, muitas mulheres mantém uma luta com seus maridos, como na juventude se dissiparam numa luta com suas mães.

No texto de Freud, “A dissolução do Complexo de Édipo[6],” refere que a menina gosta de considerar-se como o que seu pai ama acima de tudo, mas chega o momento que tem de sofrer da parte dele uma dura punição e é atirada para fora de seu paraíso ingênuo.

O menino encara a mãe como sua propriedade, mas um dia descobre que ela transferiu seu amor e sua solicitude para um recém-chegado.

Assim, o complexo de édipo se encaminha para a destruição por sua falta de sucesso, pelos efeitos de sua impossibilidade interna.

Outra visão é que o complexo de Édipo deve ruir porque chegou a hora para sua desintegração. Ele constitui um fenômeno que é determinado e estabelecido pela hereditariedade e que está fadado a findar, ao instalar-se a fase seguinte do desenvolvimento.

Na opinião de Freud é a ameaça de castração que ocasiona a destruição da organização genital fálica da criança. A psicanálise recentemente ligou a importância a duas experiências por que todas as crianças passam e que, segundo se presume, as preparam para a perda de partes altamente valorizadas do corpo. Essas experiências são a retirada do seio materno e a exigência cotidiana que lhes é feita para soltarem os conteúdos do intestino.

A observação que finalmente rompe sua descrença é a visão dos órgãos genitais femininos. Com isso, no menino a perda de seu próprio pênis fica imaginável e a ameaça de castração ganha seu efeito adiado. Geralmente, é de mulheres que emana a ameaça. Com muita freqüência, elas buscam reforçar sua autoridade por uma referência ao pai ou ao médico.

Nessa fase, a masturbação constitui apenas uma descarga genital da excitação sexual pertinente ao complexo ( desejo pela mãe ou pai).

O complexo de Édipo ofereceu à criança duas possibilidades de satisfação, uma ativa e outra passiva. Ela poderia colocar-se no lugar de seu pai, à maneira masculina, e ter relações com a mãe, como tinha o pai, caso em que cedo teria sentido o último como um estorvo, ou poderia querer assumir o lugar da mãe e ser amado pelo pai, caso em que a mãe se tornaria supérflua.”( Freud, 1924, p. 220)

Agora, porém, sua aceitação da possibilidade de castração, seu reconhecimento de que as mulheres eram castradas, punha fim às duas maneiras possíveis de obter satisfação do complexo de édipo, de vez que ambas acarretavam a perda de seu pênis – a masculina como uma punição resultante e a feminina como precondição. Nesse conflito, triunfa normalmente a primeira dessas forças: o ego da criança volta as costas ao complexo de édipo.

As catexias de objeto são abandonadas e substituídas por identificações. A autoridade do pai ou dos pais é introjetada no ego e aí forma o núcleo do superego, que assume a severidade do pai e perpetua a proibição deste contra o incesto, defendendo assim o ego do retorno da catexia libidinal. As tendências libidinais pertencentes ao complexo de édipo são em parte dessexualizadas e sublimadas e em parte são inibidas em seu objetivo e transformadas em impulsos de afeição. Esse processo introduz o período de latência (.(Freud – 1924 p.221).

Para Freud, também nesse texto sobre a dissolução do complexo de édipo, o clitóris na menina inicialmente comporta-se como um pênis, mas quando percebe a diferença e vê que se “saiu mal”, sente isso como uma injustiça feita a ela e como fundamento para a inferioridade. Ainda por algum tempo tem a esperança de que seu clitóris cresça. Não entende sua falta de pênis como sendo um caráter sexual, entende que possuía um pênis mas que o perdera por castração, e acredita que outras mulheres, especialmente sua mãe possui órgãos genitais masculinos. Assim, a menina aceita a castração como um ato consumado ao passo que o menino teme a possibilidade de sua ocorrência. Estando assim excluído o temor da castração na menina cai também um motivo poderoso para o estabelecimento de um superego e para a interrupção da organização genital infantil. Nelas essas mudanças parecem ser resultado da criação e do medo de perda do amor dos pais. A renúncia ao pênis na menina não é tolerada sem alguma tentativa de compensação. Seu complexo de Édipo culmina em um desejo de receber do pai um bebê como presente – dar-lhe um filho. Tem-se a impressão de que o complexo de édipo é gradativamente abandonado uma vez que esse desejo jamais se realiza. Os dois desejos, possuir um pênis e um filho, permanecem fortemente catexizados no inconsciente e ajudam a preparar a menina para seu papel posterior, transformando suas tendências sexuais diretas em tendências inibidas quanto ao objetivo, de tipo afetuoso.

As relações cronológicas e causais entre o complexo de Édipo, a ameaça de castração, a formação do superego e o começo do período de latência são de um gênero típico, porém variações na ordem cronológica e na vinculação desses efeitos estão fadadas a ter um sentido muito importante no desenvolvimento do indivíduo.

Uma pergunta que Freud faz no texto sobre sexualidade feminina é, como ocorre o afastamento na mãe, considerado um objeto tão intenso e exclusivamente amado? E diz que, nesse sentido, o amor infantil é ilimitado, exige a posse exclusiva, não se contenta com menos do que tudo. Como a criança é incapaz de obter satisfação completa com seu objeto, tende ao desapontamento e dá lugar a uma atitude hostil e assim a libido abandona sua posição insatisfatória e vai em busca de outra nova. Outro motivo para o afastamento da mãe surge do efeito do complexo de castração sobre a criatura que não tem pênis. Ao descobrir que não tem pênis, a menina descobre sua inferioridade orgânica.

Diante disso, Freud no texto sobre sexualidade feminina, diz :”Já observamos os três caminhos que divergem a partir desse ponto: a. o que leva a cessação de toda vida sexual; b.o que leva a uma desafiadora superenfatização de sua masculinidade; c. os primeiros passos no sentido da feminilidade definitiva.”(Freud,1931, p. 266)

Para Freud, diferente de Melanie, a atividade fálica característica da menina é a masturbação do clitóris, que tem seu início na higiene infantil. Também a sedução real pode ocorrer e pode ser iniciada por outras crianças, por alguém encarregado dos cuidados da criança que deseja acalmá-la, porém onde intervém a sedução, perturba o curso natural do desenvolvimento e deixa conseqüências amplas e duradouras.

A proibição da masturbação transforma-se num incentivo para abandoná-la mas também motivo de rebelar-se contra a pessoa que a proíbe. Uma persistência duradoura na masturbação parece abrir caminho à masculinidade.

O ressentimento por se sentir impedida de uma atividade sexual livre desempenha papel decisivo em seu desligamento da mãe. A maneira como a menina reage a impressão da castração, pode a princípio ser sentida como uma punição por sua atividade masturbatória e atribuirá a efetivação dessa punição ao pai. O afastamento da menina da mãe pode se dar por uma censura a mãe por não ter lhe dado um pênis, isto é , tê-la trazido ao mundo como mulher. Outra censura é que sua mãe não lhe deu leite suficiente. Essa acusação dá expressão à insatisfação geral dos filhos.

A criança se afasta da mãe por não fornecer à menina o único órgão genital correto, que não a amamentou o suficiente, que a compeliu a partilhar o amor da mãe com outros, que nunca atendeu às expectativas de amor da menina e finalmente, que primeiro despertou a sua atividade sexual a depois a proibiu – todos esses motivos, parecem insuficientes para justificar a hostilidade final da menina.

A intensa ligação da menina à mãe é fortemente ambivalente e em conseqüência disso, desse amor e ódio é que ela se afasta da mãe como uma característica geral da sexualidade infantil. Para os meninos é diferente, eles podem lidar com sentimentos ambivalentes para com a mãe dirigindo toda sua hostilidade para o pai.

Os objetivos sexuais que a menina espera atingir com a mãe são tanto ativos quanto passivos e determinados pelas fases libidinais que a criança passa. O que ela recebe como passivo, passa a produzir uma reação ativa, tenta fazer ela própria o que acabou de ser feito a ela, como é observado nos jogos infantis. Temos aqui uma revolta contra a passividade e uma preferência pelo papel ativo. Essa oscilação da passividade à atividade não se realiza com a mesma regularidade ou vigor em todas as crianças e isso se reflete também quanto à intensidade relativa da masculinidade e feminilidade que ela apresentará em sua sexualidade. As primeiras experiências sexuais que a criança tem em relação à mãe são de caráter passivo, isto é, ela é amamentada, alimentada , limpada vestida e ensinada a desempenhar todas as suas funções. Uma parte de sua libido desfruta dessas satisfações e outra esforça-se por transformá-las em atividade. Esse é o lado ativo da feminilidade.

A intensa excitação passiva da zona intestinal é respondida por um desencadeamento do desejo de agressão que se manifesta quer diretamente como raiva, quer em conseqüência de sua repressão, como ansiedade. Já na fase fálica, as meninas acusam suas mães de seduzi-las, pois sentem as mais fortes sensações genitais quando estão sendo limpadas. A atividade sexual desse período culmina na masturbação clitoriana, acompanhada por idéias referentes à mãe. A menina deseja crer que deu à mãe o novo bebê, tal como o menino também quer.

Para Freud, no texto sobre sexualidade feminina, o afastamento da mãe constitui um passo muito importante no desenvolvimento da menina. Não é uma simples mudança de objeto, ocorre então uma diminuição dos impulsos sexuais ativos e uma ascensão dos passivos e nesse sentido, as tendências ativas foram mais afetadas pela frustração, por se revelarem totalmente irrealizáveis e então, abandonadas pela libido. Também as tendências passivas não escaparam ao desapontamento, com o afastamento da mãe, a masturbação clitoriana não raro, cessa também e, quando a menina reprime sua masculinidade, uma parte de suas tendências sexuais também fica danificada. A passagem para o objeto paterno é realizada com o auxílio das tendências passivas e está aberto o caminho para a feminilidade, até onde não se ache restrito pelos remanescentes da ligação pré-edipiana à mãe, ligação que superou.

Neste artigo sobre a feminilidade Freud não dá maiores explicações, apenas refere que podem surgir complicações quando uma criança, em resultado de um desapontamento com o pai, retorna à ligação com a mãe que abandonara, ou quando no decorrer da vida, ela muda de uma posição para outra.

Em 1910, no texto de Leonardo da Vinci[7], Freud fala que nos primeiros três ou quatro anos de vida certas impressões tornam-se fixadas e as formas de reação para com o mundo exterior ficam estabelecidas, e nunca mais perderão a sua importância por meio de outras experiências posteriores.

No início a criança é forçada a forjar a hipótese de que todos os seres humanos, tanto os homens quanto as mulheres possuem um pênis. Com a descoberta sobre os genitais femininos, surge a ameaça de castração e receará por sua masculinidade e o menosprezo pelas infelizes criaturas que já receberam o cruel castigo, as mulheres.

A atração erótica que sente por sua mãe logo se transforma em um desejo pelo seu órgão genital, que supõe ser um pênis. Com a descoberta que fará, mais tarde, de que as mulheres não possuem pênis, esse desejo, muitas vezes se transforma no seu oposto, dando origem a um sentimento de repulsa que, na época da puberdade, poderá ser a causa da impotência psíquica, misoginia e homossexualidade permanente. (Freud,1910, p. 89)

Para Freud, neste texto de Leonardo refere que em todos os casos de homossexuais masculinos, os indivíduos tiveram uma ligação erótica muito intensa com uma mulher, normalmente a mãe, no início de sua infância. Freud cita Sadger dizendo que mães de pacientes homossexuais muitas vezes são masculinizadas, mulheres com enérgicos traços de caráter e capazes de deslocar o pai do lugar que lhe corresponde. O pai normalmente é ausente desde o começo, ou abandona a cena muito cedo, deixando a criança inteiramente sob a influência feminina.

Numa nota de rodapé acrescentada neste texto em 1910, Freud diz:

A pesquisa psicanalítica contribui para a compreensão da homossexualidade com dois dados incontestáveis sem, no entanto, considerar que esgotou o estudo das causas determinantes dessa aberração sexual. O primeiro é a fixação das necessidades eróticas da mãe e o segundo está contido na afirmação de que qualquer pessoa, por mais normal que seja, é capaz de fazer uma eleição de objeto homossexual, e mesmo já a terá feito em alguma época de sua vida e, ou ainda a conserva em seu inconsciente, ou então, defende-se dela com vigorosas contra atitudes. Essas descobertas põe fim a qualquer pretensão que possam ter homossexuais de serem considerados como um “terceiro sexo”, e também a qualquer controvérsia sobre homossexualidade inata ou adquirida. A presença de caracteres somáticos do sexo oposto ( a quota proveniente do hermafroditismo físico) influi enormemente para que a eleição homossexual de objeto se torne manifesta; mas não é o fator decisivo. Deve-se anotar, infelizmente, que aqueles que se tornaram porta-vozes dos homossexuais no campo da ciência foram incapazes de aprender qualquer coisa das deduções estabelecidas pela psicanálise. (Freud, 1910, p. 92).

Aqui, no texto de Leonardo, se referindo a esse caso específico, Freud procura mostrar o que acontece com essa ligação muito forte na relação inicial com a mãe.

Depois de um estágio preliminar, o amor de Leonardo por sua mãe não pode mais continuar se desenvolvendo conscientemente e passa a ser reprimido. Reprime seu amor pela mãe, coloca-se em seu lugar, identifica-se com ela, e toma a si próprio como modelo a que devem assemelhar-se os novos objetos de seu amor. Desse modo ele transformou-se num homossexual. No caso de Leonardo, aconteceu um retorno ao auto-erotismo, pois os meninos que ele agora ama são figuras substitutivas e lembranças de si próprio – meninos que ele ama da maneira que sua mãe o amava quando ele era uma criança. Esse é um modelo do narcisismo.

Neste caso, o resultado mais evidente de sua vivência sexual foi o afastamento de toda atividade sexual grosseira. Estava capacitado para viver em abstinência e dar a impressão de ser uma criatura assexuada. Na adolescência, procura formações substitutivas custosas e prejudiciais. A criação do artista proporciona também uma válvula de escape para seu desejo sexual.

O amor que tinha pela mãe foi reprimido e esta parte adotou uma atitude homossexual e manifestou-se no amor ideal por rapazes. Para Freud, a repressão quase total de uma vida sexual real não oferece as condições mais favoráveis para o exercício das tendências sexuais sublimadas, demonstráveis pela insaciabilidade, rigidez de comportamento e falta de capacidade para adaptar-se às circunstâncias reais.

No caso de Leonardo o acaso de sua origem ilegítima e a ternura exagerada de sua mãe tiveram influência decisiva na formação de seu caráter e na sorte de seu destino, pois a repressão sexual que se estabeleceu depois dessa fase de sua infância levou-o a sublimar sua libido na ânsia de saber e estabelecer sua inatividade sexual para o resto de sua vida. Sua tendência muito especial para a repressão dos instintos e sua extraordinária capacidade para sublimar os instintos primitivos. O talento artístico e a capacidade são intimamente ligados à sublimação.

Em Leonardo “Sentimo-nos naturalmente decepcionados por ver que um Deus justo e uma providência bondosa não nos protegem melhor contra tais influências durante o período mais vulnerável de nossas vidas. Ao mesmo tempo, estamos sempre demasiadamente prontos a esquecer que, desde nossa gênese a partir do encontro de um espermatozóide com um óvulo – acaso que, no entanto, participa das leis e necessidades da natureza, faltando-lhe apenas qualquer ligação com nossos desejos e ilusões. A distribuição dos fatores e determinantes de nossa vida entre ‘ as necessidades’ de nossa constituição e o ‘acaso’ de nossa infância pode ser ainda incerta em seus detalhes; mas não será mais possível duvidar precisamente da importância dos primeiros anos de nossa infância”. (Freud – 1910, p.124)

No texto de Freud sobre a psicogênese de um caso de homossexualismo numa mulher[8] nos diz que, via de regra, o homossexual não é capaz de abandonar o objeto que o abastece de prazer e não se pode convencê-lo de que, se fizesse a mudança, descobriria em outro objeto o prazer a que renunciou.

Neste artigo do homossexualismo feminino, Freud diz: “em ambos os sexos o grau de hermafroditismo físico é, em grande parte, independente do hermafroditismo psíquico”.

A literatura do homossexualismo em geral deixa de distinguir claramente entre as questões da escolha do objeto, por um lado, e das características sexuais e da atitude sexual do sujeito, pelo outro. A experiência, segundo Freud, demonstra o contrário: um homem com características predominantemente masculinas e também masculino em sua vida erótica pode ainda ser invertido com respeito ao seu objeto, amando apenas homens, em vez de mulheres. Um homem em cujo caráter os atributos femininos predominam, que possa comportar-se no amor, como uma mulher, dele se poderia esperar, com essa atitude feminina que escolhesse um homem como objeto amoroso; não obstante pode ser heterossexual e não mostrar, com respeito a seu objeto, mais inversão do que um homem médio normal. O mesmo procede quanto as mulheres; também aqui o caráter sexual mental e a escolha de objeto não coincidem necessariamente também aqui o caráter sexual mental e a escolha de objeto não coincidem necessariamente. O mistério do homossexualismo, portanto não é de maneira alguma tão simples quanto comumente se retrata nas exposições populares: “uma mente feminina, fadada assim a amar um homem, mas infelizmente ligada a um corpo masculino; uma mente masculina, irresistivelmente atraída pelas mulheres, mas, ai dela, aprisionada em um corpo feminino”. Trata-se, em seu lugar, de uma questão de três conjunto de características, a saber: caracteres sexuais físicos,( hermafroditismo físico), caracteres sexuais mentais( atitude masculina ou feminina), e tipo de escolha de objeto. (Freud, 1920, p. 210).

O exemplo apresentado neste artigo sobre homossexualismo feminino, fala do aspecto físico, que normalmente não apresenta nenhum desvio óbvio do tipo físico feminino, sequer qualquer distúrbio menstrual, mas no exemplo suas feições eram mais agudas do que suaves e femininas, traços que podiam ser vistos como indicadores de masculinidade física. Também apresentava alguns atributos intelectuais vinculados a masculinidade como acuidade de compreensão, e sua lúcida objetividade, mas essas distinções são antes convencionais que científicas. O que talvez tenha importância é assumir um papel inteiramente masculino, isto é, no exemplo citado, apresentava a humildade e a sublime supervalorização do objeto sexual tão características do amante masculino, a renúncia a toda satisfação narcísica e a preferência de ser o amante e não o amado.

Nesse caso de homossexualismo feminino Freud explica que, no momento da revivescência do complexo de édipo infantil, na puberdade, a menina sofreu um grande desapontamento. Seu desejo de ter o filho de seu pai foi fracassado e furiosamente ressentida e amargurada afastou-se completamente do pai e dos homens, abriu mão de sua feminilidade e procurou outro objeto para sua libido. Repudiou seu desejo de um filho, o amor dos homens e o papel feminino em geral. No caso da paciente em questão, não há dúvidas de que fora o fator emocional de vingança contra o pai que se tornara possível seu comportamento.

Freud não sustenta que toda jovem que experimenta um desapontamento, como esse do anseio de amor, que brota da atitude de édipo na puberdade, necessariamente cairá, por causa disso, vítima do homossexualismo. Nunca sabemos de antemão, qual dos fatores determinantes de revelará o mais fraco ou o mais forte, dizemos apenas que os bem sucedidos devem ter sido os mais fortes. Daí podermos reconhecer, com exatidão, a cadeia de causação, se seguirmos a linha de análise, ao passo que predizê-la ao longo da linha da síntese é impossível. A síntese não é tão satisfatória quanto a análise. Do conhecimento das premissas, não poderíamos ter previsto a natureza do resultado.

Assim também acontece com os homens, que após uma primeira experiência penosa, dão as costas, para sempre, ao infiel sexo feminino e se tornam odiadores de mulheres. O solteiro abandona seus amigos homens, ao casar-se, e retorna à vida de clube quando a vida conjugal perdeu o sabor.

Em ambos os casos, masculino e feminino, a relação com a mãe, normalmente é ambivalente desde o início e, se torna fácil reviver o primitivo amor com ela, buscando uma substituta. Homens homossexuais, geralmente experimentaram uma fixação especialmente forte na mãe.

Freud diz “que entusiasmos homossexuais, amizades exageradamente intensas e matizadas de sensualidade são bastante comuns em ambos os sexos durante os primeiros anos após a puberdade” (1920, p. 209).

Para Freud, além de uma heterossexualidade manifesta, uma medida muito considerável de homossexualismo latente ou inconsciente pode ser detectada em todas as pessoas normais.

Neste artigo de Freud sobre o homossexualismo feminino, a psicanálise possui uma base comum com a biologia, ao pressupor uma bissexualidade original nos seres humanos, mas não pode elucidar a natureza intrínseca do que é denominado de ‘masculino’ e ‘feminino’, ela simplesmente toma os dois conceitos e faz deles a base de seu trabalho. Quando tentamos reduzi-los mais ainda, descobrimos a masculinidade desvanecendo-se em atividade e a feminilidade em passividade.(Freud – 1920, p.211)

Também o fetichismo pode representar outro desvio na sexualidade, diante da percepção da diferença dos sexos e medo da castração. No artigo de Freud sobre o Fetichismo[9], diz que o fetiche representa o pênis que falta à mulher, não um substituto para qualquer pênis mas o que foi muito importante na primeira infância, mas posteriormente perdido, especificamente o de sua mãe. Nesse sentido o fetiche se destina a preservá-lo da extinção.

Freud explica da seguinte forma:

O menino se recusou a tomar conhecimento do fato de ter percebido que a mulher não tem pênis. Não, isso não podia ser verdade, pois, se uma mulher tinha sido castrada, então sua própria posse de um pênis estava em perigo, e contra isso ergueu-se em revolta a parte de seu narcisismo que a Natureza, como precaução, vinculou a esse órgão específico. (Freud, 1927, p. 180)

Diante do que Freud diz, como resultado a criança fez sua observação da mulher, reteve a crença de que ela não tem pênis, mas também a abandonou. Nesse conflito entre a percepção desagradável e seu contradesejo, pelo processo inconsciente, e refere:

Sim, em sua mente a mulher teve um pênis, a despeito de tudo, mas esse pênis não é mais o mesmo de antes. Outra coisa tomou seu lugar, foi indicada como seu substituto, por assim dizer, e herda agora o interesse anteriormente dirigido a seu predecessor. Mas esse interesse sofre também um aumento extraordinário, pois o horror da castração ergueu um monumento a si próprio na criação desse substituto. (Freud, 927, p. 181)

Essa ‘rejeição’ necessariamente acarreta uma divisão no ego do indivíduo e essa divisão não é peculiar ao fetichismo, mas pode ser encontrada em outras situações onde o ego se depara com a necessidade de construir uma defesa, que ocorre não só na rejeição, mas também na repressão.

Um fragmento da realidade, sem dúvida importante, foi rejeitado pelo ego e o outro vive de acordo com a realidade. A atitude que se ajustava ao desejo e a atitude que se ajustava à realidade existiam lado a lado.

Provavelmente todo indivíduo do sexo masculino passa por esse medo da castração ao se dar conta dos órgãos sexuais femininos. Para algumas pessoas a opção pelo homossexualismo pode se originar dessa percepção assim como outras fazem a opção pelo fetiche e a grande maioria a supera francamente, mas é difícil precisar porque uma opção é feita em detrimento de outras.

A escolha do fetiche é como se a impressão antes da estranha e traumática fosse retirada como fetiche, como o pé, o sapato, brilho no nariz. O indivíduo elege algo relacionado ao último momento em que a mulher ainda podia ser encarada como fálica.

O desenvolvimento sexual do menino e da menina para Melanie Klein

Para Klein, o desenvolvimento sexual do menino acompanha as mesmas linhas que o da menina nos seus estágios mais arcaicos. O período em que o sadismo se encontra em seu ponto máximo, ocorre pela retirada do seio materno.

Neste momento ocorre a fase feminina , onde o menino tem uma fixação de sugar o pênis do pai e para Melanie, essa fixação é a base para a homossexualidade. Para ela todo menino se move de uma fixação oral do seio da mãe para o pênis do pai. Na fantasia do menino, a mãe incorpora muitos pênis do pai e um dos motivos ao ataque ao corpo da mãe é para tomar a força o pênis que ele imagina estar dentro da mãe e assim formam a base do complexo de feminilidade do menino. Por esse ataque ao corpo da mãe, o menino sente também um intenso medo de retaliação e quanto mais sádica sua relação com ela maior será o seu terror dela como rival.

Na conflitiva edípica, o menino deseja ter a posse única da mãe em seu sentido oral, anal e genital e ataca o pênis do pai dentro dela com todos os meios sádicos a sua disposição. Também sua posição oral dá origem a muito ódio contra o pênis do pai como conseqüência da frustração que ele vivenciou por parte do pai.

É apenas durante um certo período do estágio arcaico que o menino ataca o corpo da mãe. Bem depressa seus ataques passam ao pênis do pai, supostamente dentro da mãe que o menino transfere suas tendências agressivas. Seu medo do pênis internalizado na mãe bloqueia sua permanência da posição feminina, faz com que ele desista da sua identificação com a mãe e fortaleça sua posição heterossexual. Se o seu medo da mãe como rival e seu medo do pênis do pai forem excessivos, de forma que ele não supere adequadamente a fase feminina pode surgir uma barreira decisiva ao estabelecimento de sua posição heterossexual.

As situações de ansiedade resultantes de ataques sádicos feitos pelas crianças de ambos os sexos ao corpo da mãe caem em duas categorias. Na primeira, o corpo da mãe se torna um lugar cheio de perigos e dá origem a todo tipo de terrores. Na Segunda, o interior da própria criança é transformado em um lugar de tipo semelhante, em virtude da introjeção por parte da criança de seus objetos perigosos, especialmente os pais combinados na cópula, e ela fica com medo dos perigos e ameaças dentro de si.

A criança luta com seus objetos internalizados maus por meio da onipotência de seus excrementos e também recebe proteção contra eles dos seus ‘ bons’ objetos. Ao mesmo tempo ela desloca seu medo dos perigos internos para o mundo externo por meio da projeção e encontra lá evidências para refutá-los. (Melanie Klein, p. 260)

O menino desenvolve seu senso de onipotência dos excrementos de modo menos forte do que a menina porque substitui pela onipotência de seu pênis, por isso sua projeção de perigos internos é menor, prova para si sua superioridade não só sobre seus perigosos objetos externos como os internos.

O menino, na sua imaginação dota seu pênis de poderes destrutivos e equipara-os a feras devoradoras e assassinas, armas de fogo e assim por diante, como a vara mágica, da masturbação como mágica, da ereção e da ejaculação. Ele desloca situações de perigo para o mundo externo e supera-as pela onipotência do pênis.

Para Melanie, a crença da criança de que o corpo da mãe contém o pênis do pai, leva a idéia da mulher com pênis. A mulher com pênis, sempre significa, a mulher com o pênis do pai.

É sempre pelo pênis ‘mau’ do pai pertencente à mãe que o menino espera ser castrado. Contanto que a mãe represente a mãe ‘boa’, o corpo dela será um lugar desejável, ainda que só pode ser conquistado com risco maior ou menor para ele, conforme o tamanho da ansiedade envolvida.

Em jogos de construir casas e cidades, o menino restaurará o corpo da mãe e do seu próprio.

O medo que o menino tem do pênis mau é derivado de seus impulsos destrutivos contra o pênis do pai e, uma vez que suas imagos depende da qualidade e quantidade de seu próprio sadismo, a redução desse sadismo e com ela a redução da ansiedade abrandarão a severidade de seu superego e melhorarão as relações do ego com respeito a seus objetos imaginários internalizados e também seus objetos reais externos

O ato sexual é um meio muito importante de dominar a ansiedade para ambos os sexos. Nos estágios iniciais do desenvolvimento, o ato sexual serve para destruir ou danificar o objeto além de seus propósitos libidinais. Em estágios posteriores, além da satisfação libidinal, o ato sexual serve para restaurar o corpo ferido da mãe e, desse modo, dominar a ansiedade e a culpa.

Se, durante o período de onipotência sádica, o menino usou seu pênis na imaginação com propósitos sádicos para inundar, envenenar ou queimar coisas com sua urina, no período de fazer restituição ele o encarará como um extintor de incêndio ou um frasco de remédios curativos.

Sua crença no pênis ‘bom’ do pai aumenta a atração sexual que ele sente pelas mulheres.

Na heterossexualidade do menino, a importância do fase feminina e que tenha êxito em superar essa fase. Se o menino for capaz de ficar em contato com as necessidades mentais da mulher, será pela sua identificação mais arcaica com a mãe, pois nessa fase ele introjeta o pênis do pai como objeto de amor e se as relações com a mãe são boas ajudam-no a compreender a tendência da mulher de introjetar e preservar o pênis e não destruí-lo. Também, nesta fase, o desejo de ter um filho do pai, leva-o a encarar a mulher como criança sua e faz o papel da mãe generosa em relação a ela. “Assim, pela sublimação de seus componentes femininos e superando seus sentimentos de inveja, ódio e ansiedade com relação à mãe, originados na fase feminina, o menino será capaz de consolidar sua posição heterossexual no estágio da dominação genital” (Melanie Klein, p. 268)

O medo da castração é um dos motivos muito importantes relacionados a ansiedade sentida a respeito do corpo todo e, se torna no indivíduo masculino um tema dominante, que obscurece todos os outros medos em maior ou menor grau.

O reforçamento secundário do orgulho do pênis se dá, a medida que o medo de suas imagos más e de suas fezes que dominavam internamente diminuía, assim, sua crença em sua potência sexual era fortalecida e sua confiança na onipotência de seu pênis era reforçada pela crença do pênis ‘bom’ do pai dentro de si e que se torna a base de uma crença secundária na sua onipotência.

Quando fortes impulsos orais de sucção se combinaram com fortes impulsos sádico-orais, o bebê se afasta muito cedo e com ódio do seio da mãe. Suas tendências destrutivas arcaicas e intensas contra o seio levam-no a introjetar uma mãe “má’ na sua maior parte; e o seu abandono concomitante e súbito de seio materno é seguido por uma introjeção excessivamente forte do pênis paterno. Sua fase feminina é governada por sentimentos de ódio e inveja em relação à mãe e, ao mesmo tempo, como resultado de seus poderosos impulsos sádico-orais ele passa a ter um intenso ódio um correspondente intenso medo do pênis internalizado do pai. (Melanie Klein p. 271)

Numa nota de rodapé, sobre o desenvolvimento sexual do menino, Melanie diz:

Em alguns casos, o período de secção foi curto e insatisfatório; em outros, só foi oferecida à criança, a mamadeira. Mas, mesmo quando o período de secção para todos os efeitos foi satisfatório, a criança pode, não obstante, ter se afastado do seio muito cedo e com sentimentos de ódio e ter introjetado o pênis do pai muito fortemente. Num caso desses, o comportamento do menino pode Ter sido determinado por fatores constitucionais.

E, ainda: O ódio acentuado do menino ao pênis do pai se baseia em fantasias destrutivas excessivamente fortes dirigidas ao seio e ao corpo da mãe; de modo que aqui também sua atitude arcaica para com a mãe influencia sua atitude para com o pai.” (P.271)

Melanie, “Ao traçar o desenvolvimento do indivíduo masculino normal, assinalei que os alicerces de um desenvolvimento sexual bem sucedido do homem são a supremacia da imago materna ‘boa’, que auxilia o menino a superar seu sadismo e trabalha contra todos os seus medos”. (p. 294)

Quando atinge o nível genital pleno, o indivíduo do sexo masculino retorna na cópula à sua fonte original de satisfação, sua mãe generosa, que agora lhe dá também prazer genital; e em parte como um presente de retribuição, em parte como uma reparação para todos os ataques que fez a ela na época em que danificou o seu seio, ele lhe dá o seu sêmen “sadio”, que a dotará de crianças, restaurará o seu corpo e lhe dará também a satisfação oral. A ansiedade e o sentimento de culpa que ainda estão presentes nele aumentaram, aprofundaram e deram forma a seus impulsos libidinais de quando era um bebê ao seio, dando à sua atitude para com seu objeto toda aquela riqueza e plenitude de sentimento a que chamamos amor.(p. 295)

Na atitude normal, o pênis do menino representa seu ego e sua consciência, em oposição ao seu superego e aos conteúdos do seu corpo que representam seu inconsciente. Na atitude homossexual, esse significado se estende, pela escolha narcísica de objeto, ao pênis de um outro homem, que serve como uma contraprova em relação aos medos relativos ao pênis dentro dele e ao interior de seu corpo. Assim, na homossexualidade, um modo de dominar a ansiedade é o ego se esforçar para negar, controlar ou levar a melhor sobre o inconsciente por meio de uma ênfase excessiva da realidade e do mundo externo e de tudo que é tangível, visível e perceptível à consciência.

Segundo Melanie, baseada num caso clínico sobre homossexualismo masculino, no texto sobre o desenvolvimento sexual do menino refere que, quando o menino teve uma relação homossexual na infância, teve uma oportunidade de moderar seus sentimentos de ódio e de medo ao pênis do pai e de fortalecer sua crença no pênis ‘bom’. Além disso, todos os seus casos homossexuais futuros repousarão sobre essa relação. Eles estarão destinados a fornecer-lhe vários reasseguramentos como: que o pênis do pai, o internalizado e o oral, não é um perseguidor perigoso, seja para ele, seja para a mãe; que seu próprio pênis não é destrutivo; que seus medos, quando era pequeno, de que as relações sexuais com o irmão ou um substituto do irmão fossem descobertos e ele fosse expulso de casa, castrado ou morto não tem fundamento e, mesmo como adulto, podem ser refutados, já que seus atos homossexuais não são seguidos por nenhuma conseqüência maligna; que ele tem aliados secretos e cúmplices pois no início da vida suas relações sexuais com o irmão significavam que os dois tinham se agrupado para destruir os pais separadamente ou combinados na cópula. Na sua fantasia, seu parceiro no amor assume por vezes o papel de pai, com quem empreendia ataques secretos à mãe durante o ato sexual.

Se o medo do corpo perigoso da mãe for muito forte e sua imago materna boa não tiver podido se desenvolver, suas fantasias de se aliar com o pai contra a mãe e de se juntar com o irmão contra ambos os pais o farão inclinar-se a uma posição homossexual.

O ato homossexual é destinado a realizar o seu desejo de infância arcaico de ter a oportunidade de ver em que o pênis do pai difere do seu e descobrir como ele se comporta ao copular com a mãe. Ele quer se tornar mais apto e potente no ato sexual com a mãe.

No desenvolvimento sexual da menina ocorre de forma diferente. No início, para Melanie, crianças de ambos os sexos acreditam que a mãe é a fonte da nutrição, cujo corpo contém tudo que é desejável, inclusive o pênis do pai. “Essa teoria sexual aumenta o ódio da menininha pela mãe em função da frustração que esta lhe infligiu e contribui para a produção de fantasias sádicas de atacar e destruir o interior da mãe e de expoliá-la de seus conteúdos. Em virtude do seu medo de retaliação, essas fantasias formam a base da situação de ansiedade mais profunda na menina.” (Melanie Klein, p. 214)

A menina cria fantasias sobre os enormes poderes, tamanho e força gigantesca do pênis do pai que emergem dos seus próprios impulsos sádico-orais, ela também atribuirá a ele propriedades muito perigosas. Se o seu sadismo oral for dominante, ela encarará pênis do pai dentro da mãe como algo a ser odiado, invejado e destruído. O medo que sente da mãe, para o pênis incorporado do pai, poderá levar a menina a uma atitude distorcida em relação ao sexo masculino.

Em virtude da onipotência dos pensamentos, os desejos orais pelo pênis do pai, a menina sente como se de fato incorporou-o e seus sentimentos ambivalentes pelo pênis do pai se estendem ao pênis internalizado. Essas imagos paternas formam o núcleo do superego paterno (época em que o sadismo se achava no auge). È importante no desenvolvimento da vida sexual identificar se as fantasias são de um pênis ‘bom’ ou um pênis ‘mau’. A menina, sendo mais subordinada ao pai introjetado, está mais a mercê dos poderes dele para o bem e para o mal do que o menino está em relação ao seu superego.